quinta-feira, 31 de julho de 2014

A celebração do Eid ul-Fitr

Nestes dias após o fim do Ramadã, que se deu no dia 28 de julho, está sendo comemorado até o dia primeiro de julho o Eid ul-Fitr ou Eid, simplesmente, por todos os muçulmanos do mundo. Aqui na Jordânia o movimento é gigante, as pessoas celebram nas ruas com vizinhos e parentes em uma grande festa. As palavras Eid ul-Fitr significam "Celebração do fim do jejum" e são sempre comemoradas no mês, posterior ao do Ramadã, chamado de Shawwal que é o décimo mês do calendário islâmico. O Eid religioso é comemorado apenas em um dia, mas nos países de maioria muçulmana estende-se por 3 ou 4 dias.


Em Amã estou me surpreendendo com o movimento de carros nas ruas. Pela manhã, as principais ruas da cidade estão com pouco fluxo e mal se ve pessoas caminhando. A noite, a cidade fervilha de carros, pessoas e alegria. A magia desta data é contagiante. No Eid, há diversos rituais que devem ser realizados como: se você tem condições, é obrigatório fazer caridade, seja doando dinheiro, mantimentos, roupas, o que for aos pobres e necessitados (ajudar alguém tanto quanto for possível - assim como em outras datas), deve-se orar o Fajr (primeira oração) em uma mesquita e ir à pé até ela, deve-se comprimentar com "Eid Mubarak" ("Eid abençoado") outros muçulmanos, usar roupas novas, visitar e dar presentes a parentes e amigos e presentear as crianças. Mas nada é tão fantástico como ouvir ecoando na cidade toda o som das vozes que saem das mesquitas dizendo: "Allahu Akbar, Allahu Akbar, Allahu Akbar, La Ilaha Illallah, Wallahu Akbar, Allahu Akbar Wa Lillahil-Hamd". Esta frase é dita por dezenas de vezes e mais parece uma música.


As lojas de doces, restaurantes e casas de família enchem de gente. É um burburim de vozes e muito se gasta para agraciar os entes queridos. É uma linda festa em celebração ao sacrifício de jejuar por um mês inteiro e agradecer a Deus pelas bençãos. O melhor de tudo, é poder participar de uma festa assim e ver o quanto o amor ao próximo é pregado no Islã. 

quarta-feira, 23 de julho de 2014

Al Ghor (Oriente Médio): Vivendo na região mais baixa do planeta

Al Ghor ou Al Ghawr é uma região do Vale do Jordão na fronteira da Jordânia com Israel e Cisjordânia com cerca de 110 km de extensão entre o mar da Galiléia (Lago Tiberíades) e o Mar Morto. Está é a região habitada mais baixa do planeta cerca de 300 metros abaixo do nível do mar. Al Ghor (pronuncia-se Al Ror) faz parte do complexo chamado de Great Rift Valley no qual o rio Jordão corre entre as fronteiras dos países. Este é o lugar que alimenta boa parte do Oriente Médio. As terras do Al Ghor são férteis e na metade norte do vale, no lado da Jordânia, existe um canal que auxilia na irrigação das terras cultivadas. O canal corre paralelamente ao rio Jordão, cerca de 72 km, entre o Rio Yarmuk e o Rio Zarqa. Suas águas ajudam no cultivo trigo, verduras, pimentas e frutas durante o ano todo.  Entre os países que importam os produtos do Al Ghor estão: Turquia, Europa, Emirados Árabes Unidos, Iraque, Líbano e Arábia Saudita. Na parte sul do Al Ghor, a agricultura é praticada por meio de largos oásis e nas regiões partes não irrigadas, a criação de ovelhas e cabras predomina.


O verão é escaldante durante o dia e a noite o vento trás uma temperatura amena. Por ser muito baixa, é rodeada por grandes e belas montanhas a Leste (em direção a Amã) e Oeste (Israel e Cisjordânia) cheia de grandes e pequenas cavernas, ás vezes, habitadas por pequenos grupos de beduínos. Há comércio, banco, restaurantes, hospitais e toda uma infra-estrutura, simples, mas existe, para os milhares de moradores, sejam eles sazonais ou fixos. Durante os meses de setembro a junho a região é invadida por palestinos e egípcios em busca de trabalho nas inúmeras fazendas. Atualmente, os refugiados sírios também costumam vir para tentar a sorte durante os meses de colheita. Na realidade, Al Ghor é uma região predominantemente de auxílio aos refugiados dos países vizinhos, como os palestinos expulsos de suas casas por Israel que não conseguem trabalho nas grandes cidades. 

A região é berço de muitas histórias e descobertas arqueológicas. A mais famosa delas é a do achado dos manuscritos de Balaão, filho de Beor, que segundo os dois livros sagrados (Torá e Bíblia) foi um profeta cujo Balaque deu ordens para amaldiçoar o povo de Israel. Estes manuscritos foram encontrados na cidade de DeirAllah, cerca de 60 km do Mar Morto. Por estar no coração do Oriente Médio, Al Ghor foi rota de diversos profetas e seguidores destes. No caso do profeta Maomé, vários de seus Sahabah (companheiros) estão enterrados em mesquitas da região como: Dhirar ibn al Azwar, Abu Ubaidah ibn al Jarrahe  e Shurahbeel ibn Hassana. Além disso, foi o local onde ocorreu a Batalha de Fahl entre o Califado islâmico e o Império Bizantino em 635.

Nesta que é uma das regiões habitadas mais antigas, olhar de longe o verde das plantações nos faz ver o quanto o Homem é forte para sobreviver e cultivar vidas em partes tão longínquas e áridas da Terra.

sexta-feira, 4 de julho de 2014

A mulher no Oriente Médio

Neste tempo em que estou vivendo no Oriente Médio pude notar o quanto que a mulher é importante nesta sociedade. Na verdade, a mulher é o alicerce de qualquer sociedade.

Muito se fala, se noticia sobre maus tratos, inferioridade, silêncio, opressão. Coisas que ocorrem em qualquer parte do mundo, mas que viram algo cultural se for no ORIENTE MÉDIO. O que estou vendo aqui são mulheres ativas, que estudam, que trabalham, que cuidam de seus filhos, que sorriem, que se divertem, que se embelezam e que os homens respeitam. Se há diferenças entre a mulher que vive no Oriente Médio e em outras partes do mundo? Claro. Sempre haverá alguma diferença entre nós. Nosso comportamento, nossa forma de se vestir, de lidar com pessoas e com situações. Até porque somos especiais, únicas.


Nos países de maioria muçulmana a mídia vive mostrando certas atrocidades que o sexo feminino passa. Mulheres são mortas, surradas, inferiorizadas, coisificadas o tempo todo no resto do planeta e em qualquer região do mundo isso não tem nada a ver com religião. Porém quando estas coisas ocorrem por aqui, a primeira coisa que se culpa não são os homens covardes, mas sim, a religião. Religião nenhuma ensina a bater e maltratar mulheres. NENHUMA. A própria mulher tem o direito pelo Alcorão de pedir o divórcio, caso seu marido a maltrate e é totalmente proibido o homem levantar a mão para sua mulher, algo que comprova que é covardia masculina e não religião. Mas sempre haverá a distorção, porém, não entremos em detalhes.

Se há coisas que são estranhas e talvez erradas, sim, há. Acho um absurdo mulheres não poderem dirigir na Arábia Saudita. Mas existe, no mesmo país, uma lei para protegê-las da violência doméstica. Tratar mau mulheres, animais, crianças não tem nada a ver com crença, é índole. O mundo está cheio de violência. Sempre esteve. Só que hoje ela chega aos nossos lares pela tv, pela Internet e bate à nossa porta instantaneamente. Em nenhum lugar precisaria haver lei para proteger mulheres se os homens tivessem dignidade e caráter.


As mulheres no Oriente Médio são professoras, engenheiras, médicas, arquitetas, empresárias, jogadoras de futebol, políticas, agricultoras...Estigmatizar as mulheres do Oriente Médio e chamá-las de oprimidas é um erro. Por que seriam? Por que cobrem seus cabelos e não andam chamando atenção com suas curvas? Por que precisam de permissão do pai para casarem? Ninguém melhor que nosso pai e nossa mãe para saberem o que é melhor para nós, não é? Ninguém nos ama tanto quanto eles. É a filha que está prestes a sair de casa, para viver com alguém pelo resto da vida, se for possível. Isso não é opressão, é amor. Forçar a casar com alguém que não ama já é outra coisa (algo natural em diversas culturas no planeta, no próprio Brasil isso já foi normal).

Nada melhor do que conhecer algo para falar dele. Convivendo com elas eu vejo que na verdade temos semelhanças universais. Somos sonhadoras, vaidosas e estamos em busca de algo que nos complete. No Oriente Médio não é diferente. As mulheres estarão sempre lutando por seus direitos, vivendo suas vidas corridas e cheias de tarefas seja na Arábia Saudita, no Líbano, no Brasil, na França ou em qualquer pedaço de terra deste planeta.