sexta-feira, 16 de maio de 2014

40 dias, 40 noites no Oriente Médio

Inicio o post de hoje falando dos 40 dias já vividos no Oriente Médio. 40 dias de descobertas, encantamentos, surpresas e, por enquanto, sem nenhuma grande decepção.

Nunca tive medo ou receio de vir para cá. Não houve choque de cultura. Na verdade, sempre foi um sonho pisar nestas terras tão antigas e cheias de história. O medo e a ignorância vinham de terceiros. Perguntas relacionadas à vestimenta, guerra, terrorismo, sequestro de filhos, poligamia, idioma eram cotidianas para mim no Brasil que até cheguei a ouvir:"Lá tem Televisão?". Não julgava o não conhecimento das pessoas, até porque estas são as dúvidas que surgem quando se tem mídias que escolhem o que querem mostrar (o lado ruim das coisas). Para o imaginário de uma parte do mundo, Oriente Médio é sinal de homem-bomba, burca e homens casados com várias mulheres. Só que não é bem assim. Não mesmo. Meu medo era ter de ficar 16 horas em um avião...Mas até isso foi bom! A viagem foi tão tranquila que não consegui assistir um filme se quer até o final por causa do sono...


Meus primeiros dias foram vividos na bela Dubai. Cidade - graças ao dinheiro do petróleo - idealizada para ser uma metrópole cosmopolita. E Dubai é totalmente cosmopolita para lado bom e ruim. Com mais de 120 nacionalidades vivendo em um mesmo espaço, há respeito entre elas. Se vê nas praias mulheres com Hijab ou de biquíni fio dental. Nas ruas, indianas de barriga de fora em suas roupas tipícas, mulheres muçulmanas com seus cabelos cobertos, européias com mini-saias, passeiam. Algumas de mãos dadas com seus parceiros ou acompanhadas de amigas. Todavia, há o problema, que tanto se fala, daqueles que construíram e constroem este mundo glamoroso, indianos, paquistaneses que trabalham duro para ver Dubai sendo Dubai.

Um pouco mais de 100 km dividem Dubai de Abu Dhabi, a capital dos EAU, que segue os passos da vizinha já famosa e rica. Tem reservas de petróleo gigantes em seu solo e está se transformando em uma cidade cheia de arranha-céus, mas com um ar de cidade ainda provinciana. Possui belos parques, avenidas largas e perfeitas para se dirigir. Assim como Dubai, a violência é quase "0". Pode-se andar nas ruas a qualquer hora. Coisas de Oriente Médio...

Já na Jordânia, o cenário é diferente dos EAU. O país respira história. As construções são feitas de pedra. A capital, Amã, tem um tom bege claro em sua arquitetura. E com o passar do tempo, o vento traz poeira que pinta os prédios de um marrom claro, deixando a cidade com nuances de ser mais velha do que parece ser (Amã data da Época Romana). Há três grandes edifícios apenas que estão sendo construídos. Amã está cheia de ruelas e é totalmente montanhosa. Andar ou dirigir por ela requer atenção, já que o transito é caótico. O povo, porém, é maravilhoso e acolhedor em demasia. Ser recebido bem em uma casa jordaniana é um convite para comer bem e ser muito bem tratado. Eles querem que você se sinta bem como se estivesse em casa. As refeições são quase um banquete e é comum se comer com a mão mesmo que os talheres estejam à mesa. Parece estranho, mas comer com a mão parece que deixa a comida mais saborosa!!! 


Sobre a forma de se vestir, há semelhanças com o Brasil (é claro que não se vê decotes, barrigas de fora e homens sem camisa). O uso do Véu (Hijab) não é obrigatório, mas a maioria das mulheres o usa. E usam porque querem. O que se vê é uma população muito arraigada às origens, tanto as mulheres, quanto os homens. Muitas mulheres usam as vestimentas tradicionais da região (túnica escura com detalhes coloridos) e alguns homens usam as típicas túnicas brancas com o Keffiyeh (lenço branco com preto ou vermelho) na cabeça. Mas as vitrines das lojas estão cheias de vestidos, saias, blusas com cortes "ocidentais".

Sobre religião, na Jordânia não é difícil ver igrejas católicas. Em Amã, por exemplo, há igrejas de frente para mesquitas em diversas partes da cidade. Aliás, o país está se preparando para a visita do Papa no fim do mês. Painéis espalhados pela capital mostram o Papa e o Rei Abdullah II juntos, com o propósito de mostrar que a Jordânia é um país de paz e sem preconceitos. O islã é maioria e ouvir o Adhan (chamamento para a oração) cinco vezes ao dia é lindo. Minha decepção foi com o cigarro. É horrível, mesmo que seja proibido fumar em vários lugares, a população burla a lei. Fuma-se em lugares públicos e privados. Alguns restaurantes tem ala para não fumantes, mas mesmo assim, o cheiro do cigarro está impregnado no ar. Uma falta de respeito...

Os traços culturais do "ocidente" estão impregnados na cultura árabe de hoje. Está nas roupas, nos programas de televisão, nas novelas brasileiras e mexicanas que são sucesso por aqui, na música e na forma de se falar. O estrangeirismo cotidiano por estes lados tem sua vantagem, por exemplo, porque uma parcela muito grande da população fala inglês. Entre eles já virou rotina incluir palavras estrangeiras nos diálogos. Mas muitas coisas são polidas na mídia, por um lado. Cenas de sexo e palavrões são censurados em muitos canais de tv. Porém, se vê cantoras, principalmente do Líbano, sensualizando em clipes a moda Shakira e derivados. É o American Way of Life colocando sua semente no mundo. 

Nestes 40 dias de Oriente Médio muitas situações engraçadas ocorreram, como ficar sentada em uma sala com pessoas falando somente árabe comigo sem eu entender uma só palavra, sendo entendida apenas por mímica ou de ser paparicada por meninos que vieram até o carro e beijaram a minha mão como se eu fosse uma lady! É corriqueiro meninas me falarem "Hi" na rua e ficarem super sorridentes quando eu retribuo com um "Oi" em português. Aqui eu pareço exótica comparada às belas mulheres árabes. As pessoas me olham com curiosidade e quando eu falo, elas ficam na expectativa de saber de onde sou...É uma incógnita. Está na cara que não sou das redondezas. Se eu pareço exótica para eles, eles não me parecem exóticos. Eles são o retrato que eu pintava na minha mente. Mas com pinceladas borradas de um mix de valores e culturas que estão querendo impô-los que deixam o quadro com traços ecléticos. Coisas da globalização...

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